Pontas soltas

Sinto-me perdida. Sinto-me má. Sinto-me triste. Sinto-me egoísta.
Incapaz de ver a dor que te provoco toldada pelos meus fantasmas.

Um dia achei que tinha nascido para ser algo mais. E esse dia repete-se todas as manhãs desde que me conheço como gente. Acho que sou mais perspicaz que todos os outros, acho que sou mais nobre que todos os outros, acho que sou mais fria que todos os outros, acho que sou mais quente que todos os outros. Chego mesmo a achar que sou mais talhada para líder que todos os outros. Acho que sou mais altiva que todos os que me rodeiam. Acho que sou mais orgulhosa que os outros. No fundo sou eu e mais eu. E depois? Tudo assim muito bem espremido o que fica?
Uma gaja, que de facto tem mau feitio, mas nem assim tanto. Uma gaja que é fria, mas não o suficiente, que também é quente, mas não é nenhum vulcão, é assim mornita. (coisa mais triste, ser mornita.) Sobra mais o quê? Uma gaja que tirou um curso para o qual não foi talhada, criação não é definitivamente comigo, por isso esse caminho ficou por percorrer. Um emprego onde falha constantemente por falta de bases, de capacidades, por isso esse caminho está por percorrer. Tudo em que se mete fica a meio. Começou um bordado com um lindo farol, esse caminho ficou por percorrer. Começou um outro bordado, a Sé de Lisboa. Está encostada, mais um caminho por percorrer. O mestrado, a menina dos seus olhos... que ironia, esse também ficou a meio. Todos os projectos, uma palavra... inacabados.

E por isso obrigo-te a trilhar o teu caminho até ao fim, porque sei quanto amargo é este sabor de olhar para trás e não ver nada feito, só pontas soltas.

Desculpa, meu amor. Desculpa por te arrastar neste turbilhão que sou eu.