quinta-feira, 24 de julho de 2008

Quem pesa mais?

As palavras saem-me em catadupa sempre que a alma me doí. Quando o vazio da ausência de outro ser me invade de tal forma, que o cheiro mantem-se na almofada. E o som das suas gargalhadas ecoam na minha pele.

As palavras brotam como se saissem de terra fértil sempre que a felicidade arrebenta com os meus limites. Quando a paixão me faz estremecer, porque alguém virou a esquina. Quando o piscar do olho, porque o sol está forte, me põe a sonhar horas a fim, sem nunca ter um fim, feliz ou infeliz, o importante é deixar a porta aberta, de preferência escancarada.

As palavras faltam-me quando o marasmo me invade. Quando não há ausência, porque a presença deixou de ser sentida. Eu estar, é o mesmo que partir. Eu ir, é o mesmo que chegar. Sem frios na barriga, sem saudades, sem vontades. Tudo próprias. Apenas existem as vontades do Outro. As saudades do Outro. Os frios na barriga por causa do Outro. Esse Outro, está lá todos os dias, fisica e psicologiacamente. Mas não me vê. Não me quer. Pelo menos como eu sou. E eu sou tão diferente daquela pessoa que se deita ao seu lado todos os dias. Apenas por medo de perder esse Outro.

A ausência das palavras acabam por doer mais do que qualquer ausência, porque são a ausência de mim mesma. Ou fico comigo, ou fico com o Outro. Quem pesa mais? Eu ou o Outro?

Não adianta moldar o barro que não quer ser moldado.

2 comentários:

pombamarela disse...

fico triste que estejas triste, esta tua declaração faz-me lembrar uma música da Adriana Calcanhoto, baseada num poema de Mário de Sá Carneiro: "eu não sou eu, nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio, e lá na ponte de tédio, eu vou de mim para o outro..."

Anónimo disse...

Lembro-me de uma conversa que tivemos, no início desse teu recomeço. Dizias algo do género do que dizes aqui. E eu, bruta que nem porta de quinta, devo ter insinuado que não fosses em frente (quer dizer, usei outras palavras, mas acabava por ser isto). E disse-o porque te conheço, tal e qual como te descreves. A tua resposta foi "mas eu gosto dele, M.". Julgo que me calei. E cada vez que te leio, quando falas desta tua insatisfação (no bom sentido), lembro-me desta frase, que pesa. Sei que encontras alguma satisfação nas "pequenas coisas" (eu acho que o segredo é esse, devias ver os meus olhos brilhar na perspectiva de um gelado ou um bolo de chocolate, de um passeio de carro pelo campo, de uma ida à H&M, de um bom filme - em DVD, sua exca. JM não vai ao cinema, uma paranóia entre tantas, ui, ui...). Também sei que não chega. Mas não gosto quando te questionas quem pesa mais. Ainda por cima quando dás tudo para que funcione (és mãe (de 2; 3 com o gato, que também quer miminho), companheira, dona de casa e mulher de carreira!). Acho bem que o barro não seja moldado, está muito bem como está, à parte alguns retoques, que fazem parte do "crescimento", claro. O Outro anda distraído, temo que um dia acorde e tenha uma surpresa, ver que o barro cozeu e quebrou. Espero que não, dah, mas que precisa de um abanão, precisa!!!

Também tenho saudades tuas. Vou tentar ir aí em breve. Muuuuuuuuuuuuitos bjs,

mamadeira.do.André@Lux

PS: fiquei triste quando li este post, até porque o anterior é uma bomba de alegria; mas devo confessar que já o esperava. Já reparaste que o teu blog é um tanto ou quanto como uma uma "montanha russa"?